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Fui almoçar à pastelaria nova lá da santa terrinha. Peguei numa Visão que estava em cima do balcão junto com outras revistas e jornais velhos e levei-a para a mesa para me fazer companhia durante o almoço.
Comecei a desfolhá-la e de imediato percebi que estava sublinhada e anotada a caneta, comecei a ler os comentários manuscritos e achei o máximo, revelavam um espírito crítico e um sentido de humor acutilante, por exemplo, num artigo sobre comportamento falava-se sobre o papel da mãe e do pai nos dias de hoje, dizia que a mãe continua a ser a mais afectiva e o pai o mais distante afectivamente falando, o/a autor/a das anotações discordou escrevendo que "no contexto social actual, isso não é verdade", mais à frente, é dito na crónica algo do género "... que os rapazes são educados para se emanciparem mais cedo e a raparigas como são mais chegadas afectivamente à famíla tendem a permanecer mais tempo no seio da dessa mesma família." (atenção, que estas não são exactamente as palavras utilizadas no artigo, são a minha interpretação, podendo não estar totalmente correcta, por ter feito uma leitura "na diagonal"), comentário a caneta: "Mentira. Hoje os rapazes saem tardíssimo da casa dos pais, são uns melgas!". Este é apenas um de muitos outros artigos de conteúdos variados anotados naquela revista, notava-se que se tratava de uma pessoa informada e com os olhos bem abertos.
Bem, tudo isto para dizer que fiquei com curiosidade em conhecer o/a dono/a dos comentários que me fizeram sorrir, perguntei à dona da pastelaria sobre quem seria, e ela aponta para o fundo da sala, para uma senhora de cabelos branquinhos, sentada sózinha numa mesa, de costas para mim e com um jornal aberto, dizendo: "São giros, não são? São daquela senhora, ela passa aqui horas de caneta em punho a escrever em tudo o que é revista e jornais!"
Acabei de almoçar e de devorar todas as anotações, levantei-me e fui cumprimentar a senhora: "Dê cá um beijinho porque gosto muito do seu espírito crítico!", ela sorriu e disse "Sempre fui uma rebelde, divorciei-me duas vezes, a 1.ª há 40 anos, caiu que nem uma bomba na minha família, um escândalo! Gosto muito de dizer o que penso e acho que as pessoas têm medo de dizer o que pensam, eu cá não!"
Pois faz muito bem, senhora a quem nem perguntei o nome, eu também gosto de pessoas assim, fazem falta neste mundo hipócrita! Tenho a certeza que voltaremos a nos encontrar e teremos grandes e interessantes conversas, enquanto almoçamos juntas, o que lhe parece?